quinta-feira, 9 de agosto de 2012

CARTA DE UM PAI A UM FILHO

CARTA DE UM PAI AO FILHO

AMADO FILHO,


O dia em que este velho não for mais o mesmo, tenha paciência e me compreenda.
Quando derramar comida sobre minha camisa e esquecer como amarrar meus sapatos, tenha paciência comigo e se lembre das horas em que passei te ensinando a fazer as mesmas coisas.
Se quando conversares comigo, eu repetir as mesmas histórias, que sabes de sobra como terminam, não me interrompas e me escute. Quando eras pequeno, para que dormisses, tive que te contar milhares de vezes a mesma estória até que fechasses os olhinhos.
Quando estivermos reunidos e sem querer fizer minhas necessidades, não fique com vergonha. Compreenda que não tenho culpa disto, pois já não as posso controlar. Pensa quantas vezes pacientemente troquei suas roupas para que estivesses sempre limpinho e cheiroso.
Não me reprove se eu não quiser tomar banho, seja paciente comigo. Lembre-se dos momentos que te persegui e os mil pretextos que inventava pra te convencer a tomar banho.
Quando me vires inútil e ignorante na frente de novas tecnologias que já não poderei entender, te suplico que me dê todo o tempo que seja necessário, e que não me machuques com um sorriso sarcástico. Lembre-se que fui eu quem te ensinou tantas coisas. Comer, se vestir e como enfrentar a vida tão bem como hoje você o faz. Isso é resultado do meu esforço e da minha perseverança.
Se em algum momento, quando conversarmos, eu me esquecer do que estávamos falando, tenha paciência e me ajude a lembrar. Talvez a única coisa importante pra mim naquele momento era o fato de ver você perto de mim, me dando atenção, e não o que falávamos.
Se alguma vez eu não quiser comer, saiba insistir com carinho. Assim como fiz com você. Também compreenda que com o tempo não terei dentes fortes, e nem agilidade para engolir.
E quando minhas pernas falharem por estar tão cansadas, e eu já não conseguir mais me equilibrar... Com ternura, dá-me sua mão para me apoiar, como eu o fiz quando você começou a caminhar com suas perninhas tão frágeis.
E se algum dia me ouvir dizer que não quero mais viver, não te aborreças comigo. Algum dia entenderás que isto não tem a ver com seu carinho ou com o quanto te amo. Compreenda que é difícil ver a vida abandonando aos poucos o meu corpo, e que é duro admitir que já não tenho mais o vigor para correr ao seu lado, ou para tomá-lo em meus braços, como antes.
Sempre quis o melhor para você e sempre me esforcei para que seu mundo fosse mais confortável, mais belo e mais florido. E até quando me for, construirei para você outra rota em outro tempo, mas estarei sempre contigo e zelando por você.
Não se sinta triste ou impotente por me ver assim. Não me olhe com cara de dó. Dá-me apenas o seu coração, compreenda-me e me apoie como o fiz quando começaste a viver. Isso me dará forças e muita coragem. Da mesma maneira que te acompanhei no início da sua jornada, te peço que me acompanhe para terminar a minha.
Trate-me com amor e paciência, e eu te devolverei sorrisos e gratidão, com o imenso amor que sempre tive por você.
Atenciosamente,


TEU VELHO

Mariza Helena Machado

http://estardeficiente.blogspot.com.br/2010/02/carta-de-um-pai-ao-filho.html







































































































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